Estou a viver o meu maior pesadelo. Aconteceu. Foi há dois dias. Uma ecografia e a cara da médica a olhar para o maldito ecrã. Eu li a cara dela, a cara dela foi um certificado daquilo que eu, desde sempre, soube. E não me vou esquecer de como me consegui aguentar apesar de as lágrimas cairem, (nada as podia amparar). Não sei como, não sei porquê, mas sempre soube que ia acontecer. Porquê? Porquê eu? Porquê a mim? Logo eu que sempre respirei saúde. E afinal isto nasceu comigo. Sinto que o mundo está a desabar. Sinto-me a sufocar, sinto-me perdida, sinto-me tão perdida. E o pesadelo intensifica-se. Isto vai destruir o nosso casamento? Por que desejo tão fortemente isto agora? É porque sei que vai ser difícil de alcançar?
Deixem-me chorar, deixem-me gritar, deixem-me sentir revoltada, assustada, confusa, triste. Parem de me dizer que isto não significa nada, que não é grave, que está tudo bem, que há quem tenha isto e consegue. PAREM. Parem de fingir que isto é algo que alguma vez alguma mulher não se importaria de ouvir.
E sinto-me sozinha, tão mas tão sozinha. Não apenas neste sofá às escuras. Tenho que fingir que está tudo bem, tenho que parar de pensar nisto, não "passar o dia todo a falar deste assunto". O E. já se sente pressionado e só sabemos disto há dois dias. Preciso de fingir que está tudo bem. Caso contrário, jamais conseguiremos.